Conheça o seu país antes de conhecer o mundo!
Janeiro de 2013.
Me despeço de meus pais no aeroporto de Barcelona. Será a minha primeira vez na América do Sul, continente que sempre me pareceu mágico, e a minha primeira vez no país que mais quis conhecer desde criança.
Parto para o Brasil com uma mala cheia de sonhos, porém também de incertezas:
- Serão os brasileiros esse povo acolhedor, alegre, festeiro, despreocupado, que aparece, sempre sorrindo, nos documentários da TV espanhola sobre o Carnaval?
- Serão as mulheres brasileiras, com essas misturas raciais únicas e surpreendentes, as mais lindas e atraentes do planeta?
- Como será enfrentar um novo idioma, sem aulas nem preparação prévia alguma? Será que conseguirei falar um português razoável, mesmo com um inevitável sotaque gringo?
- E como serão as paisagens que encontrarei nos diferentes lugares que terei a oportunidade de visitar? Praias, floresta, montanhas, cachoeiras, pantanal… será que terei tempo de ver TUDO?

- que fiz amizade com um monte de brasileiros (e brasileiras); amizades que com certeza vou levar para a vida;
- que ganhei um novo idioma (sem perder meu sotaque puxado rs);
- que passei nos 27 estados (ou 26 mais o DF) que compõem a geografia brasileira.
Mas que brasileiro é “fácil de amistar” e que fala português, isso todo mundo sabe. Hoje eu quero focar no último ponto.
Um país "desconhecido" para seus próprios habitantes
Gente, poucos brasileiros são plenamente cientes das inúmeras belezas que o país tem. Sim, todos sabem que ele é enorme e que contém uma variedade paisagística absurda, porém não são muitos que o conhecem BEM.
Quis entender os motivos pelos quais vários de meus amigos “locais” tinham viajado mais para os Estados Unidos ou para a Europa do que pelo próprio Brasil.
– (Fulano) Você já foi em todos os estados? Nossa, gringo… é que você só viaja!
– (Eu) Mas você conhece a Europa melhor que eu. E o Brasil? Em quantos estados você já foi?
– (Fulano) Vixe, sei lá… Talvez uns 6? 7?
Conversando com estas pessoas, achei principalmente duas razões:
- Falta de informações e divulgação (aquele famoso “o Acre não existe”).
- O valor das passagens domésticas pode chegar a ser absurdamente caro, quase tanto como ir para Miami.
Respeito do segundo ponto, existem algumas técnicas de barateamento que irei explicar em próximos posts.
O primeiro ponto é o motivo principal pelo qual comecei a desenvolver este blog.

Mas, na minha opinião, há um terceiro motivo: a não valorização de aquilo que é “nosso”. Parece como se tudo que tem lá fora é melhor ou vale mais a pena do que aquilo que temos “em casa”.
Você acha que as praias da Tailândia são mais bonitas que o litoral nordestino? Sabia que o terceiro maior delta em mar aberto do mundo se encontra no Brasil? Ou que duas das sete maravilhas naturais, e uma das sete maravilhas do mundo moderno estão neste país maravilhoso?

De dentro para fora
Desde bem novo, meu pai sempre me disse: “Daniel, é bom você conhecer bem seu país antes de sair para conhecer o resto do mundo“. E bem que ele predicou com o exemplo, pois enquanto meus amigos iam para França, Itália ou Turquia nas férias, meus pais me levavam cada verão para um local diferente na Espanha. Foi assim que acabei passando nas 50 “províncias” do país.
Bem antes de viajar para o Brasil, ou o México, ou a Cuba, ou o sul da África, ou o sudeste asiático, eu podia dizer com orgulho que conhecia o meu país muito bem.
(Sim, é óbvio que viajar pela Espanha é bastante mais fácil, sendo que o país é bem menor e as comunicações e infraestruturas, bem melhores. Também não pretendo que você percorra o Norte todo antes de ir para a Europa rs… O importante aqui é o conceito)
E não é apenas eu, e meu pai, que somos desta opinião. Neste post ou neste outro, pessoas de outros países latinos dão alguns motivos que suportam a tese. Inclusive, o Skyscanner, no post 50 dicas de viagem (pensado para viagens para outros países), menciona (vide dica #43) a importância de olhar para os pontos positivos do próprio país na hora de viajar para fora. É claro, que isso é mais fácil se você já andou bastante nele!
Conhecer é vivenciar
Mas não, não estou falando apenas em paisagens ou natureza.
Uma das maiores riquezas do Brasil reside nas pessoas. E também a maior fonte de aprendizado sobre a cultura, a história, a culinária, a tradição, o modo de vida e os costumes locais. Assim:
- interaja, fale com o taxista que leva você do Santos Dumont para o Arpoador;
- puxe assunto com a pessoa que senta do seu lado naquele busão que une duas cidadezinhas perdidas no meio da Rondônia;
- converse com o barqueiro desse passeio pelo rio Arapiuns;
- pergunte muito para o guia que você contratou para conhecer o Jalapão;
- bata um papo legal com o fazendeiro que acolheu você no Pantanal.
Claro que, apenas conversando, a experiência não seria completa. Experimente os pratos da culinária local (essa goma do tacacá paraense pode não parecer muito gostosa, mas se você não provar, nunca irá saber!), participe das tradições regionais (se ainda não dançou forró no nordeste, já pode voltar), e adquira produtos artesanais, especialmente se for para ajudar ao desenvolvimento das comunidades locais (quem voltou do Jalapão sem algum artesanato de capim dourado?).

É disso que eu falo quando digo “conhecer bem” os diferentes pontos do mapa nacional: não apenas saber quais atrativos turísticos há em cada lugar, passando por eles superficialmente como um mero espectador, porém também mimetizar-se com o destino, vivenciando a realidade local, o quanto mais, melhor.
De todas essas experiências nos diferentes destinos do país, você irá extraindo uma das principais vantagens do turismo doméstico: o orgulho de pertença. Seu país é cheio de riquezas naturais e humanas, e você faz parte delas.
Quer outra? Quando estiver conversando com algum gringo na Europa, nos EUA, ou em qualquer outro lugar, e ele for perguntar “So… what’s nice to see in Brazil?“, você poderá complementar os clichés das praias do Rio, o Carnaval da Bahia e as cataratas do Iguaçu com muitas dicas sobre muitos outros lugares que farão eles ficarem de boca aberta e quererem passar logo (deixando seus Euros ou Dólares) no país do samba do frevo.
Concluindo...
Assim, da próxima vez que você estiver na dúvida do que fazer com esses 10 dias de férias do mês que vem, e sua cabeça (ou [email protected]) dizer “Miami?”, responda: “E por que não Alter do Chão?” 😉

Sua vez!
E você, concorda com a visão do post? Acha importante conhecer minimamente bem seu país antes de partir para o mundo lá fora? Quanto você sabe do Brasil? Em quantos estados já foi? Espero (e agradeço) sua opinião nos comentários!